sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Plástico que engasga o corpo e a alma.

Memória
Quem foi criança nos anos de 1960 – 1970 teve a sua coleção de vidrinhos, caixinhas e latinhas, tudo embalagens reaproveitadas. Essa coleção era feita também na cozinha e em todos os outros cômodos da casa, utilitários de primeira.
Eu tenho uma lata de bolachas que foi de meu avô paterno, defunto há mais de 60 anos. Era onde ele guardava os seus documentos e, eu hoje guardo as minhas moedas antigas. Ela está inteirinha.
Café, açúcar, doces, papéis, fotos, remédios, dinheiro, material de costura e até segredos felpudos eram bem guardados nessas vasilhas reaproveitadas que não acabavam nunca. Elas eram bonitas, tinham figuras e cores chamativas. Os vidros vinham em várias cores e formatos.
Até pouco tempo atrás, eu guardava o vidrinho bonito de leite de colônia, que gosto de usar, para onde transferia o conteúdo do que vem no plástico. Também tinha o vidro de sal de frutas.
Tudo era feito para agradar aos olhos e para durar, inclusive o papel.

Hoje
Choveu torrencialmente e o riacho que faz a divisa de nosso terreno recebeu uma “carrada” de lixo do vizinho. Lixo homogêneo, composto só por um elemento, o plástico. Vasilhame de plástico, saquinhos de plástico, garrafas pet, plástico, plástico. Algo enlouquecedor!
Esse é o nome de nossa época apressada, feia e “descartante”: plástico! Tudo é feito para ser jogado fora, (até gente)... não para ser útil e enfeite. A única durabilidade é a do lixo, não a do objeto.
Tentando desafogar o riacho do plástico que o engasgava, senti uma dor no peito, uma saudade de outra época mais naturalmente estética e ingênua, sobretudo, menos descartável.
Quero escrever para algumas empresas sugerindo que voltem a utilizar o vidro, o metal, o pano e o papel, principalmente embalagens recicláveis e reaproveitáveis.
O que acham disso?
Talvez pudéssemos começar um movimento pela volta desses materiais duráveis e ecologicamente mais equilibrados.
Onaldo Alves Pereira

Assisto ao nascer do dia, todo pintor de si mesmo! São 05h50min h


Chamamos o Sorriso de Deus para dentro do sorriso do mundo.
Invocamos o Seu riso para iluminar o riso das criaturas.
Queremos o beijo de Deus em todos os nossos beijos.
E, então, sorridentes, rindo e beijando como Deus, em Deus e a Deus, concluiremos juntos o mundo, como há de ser concluído.
Onaldo Alves Pereira

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

“E Deus pesou a sua mão sobre a Renascer”

Renascidos, os apóstolos e bispos da Igreja Renascer, tão poderosos nas bênçãos, tanto fizeram pelos dizimistas que se esqueceram de dizimar para Deus e o Estado e, a mão divina achatou-lhes o teto.
Liberaram tanta prosperidade para o Cacá e para outras estrelas que não tiveram tempo para lidar com as minudências dos alvarás e com a honestidade técnica da engenharia. Claro que, os pequenos milagres das propinas devem ter superabundado enquanto deu, senão não teriam cegado tanta gente. Mas esqueceram-se de acertar as coisas com Deus e, aí...
Bem, creio não na conversa acima. Longe de mim um Deus que castiga, cobra dízimos ou negocia bênçãos. Deus ou destino, ou justiça, ou natureza, ou carma, nada disso explica qualquer coisa sobre tetos que desabam quando apodrecem.
É óbvio, experimentalmente verificável, que ninguém de necessário, colhe o que planta. Fosse assim, tão ingenuamente simples,“tadim” do Edir Macedo, do Papa, dos mulás e companhia! Jogar a colheita para uma “outra vida” é no mínimo eticamente duvidoso, esse sadomasoquismo só mesmo com Hollywood, e olha lá.
O fato é que, por acaso, o “caível” caiu na hora azada e machucou a miudeza dizimante. Não há explicação a não ser a técnica.
Choremos com os parentes dos mortos e cobremos das “autoridades” o cumprimento de seu dever corriqueiro, pelo que as pagamos forçadamente – pior que o dízimo é o imposto.
Punir os responsáveis pelo desastre pode até saciar os instintos mais baixos da sociedade, mas essa é uma catarse rasa, que não substitui a devida fiscalização prévia, como prevista em “lei”.
Onaldo Alves Pereira

Luz morena

Cega vai a humanidade pelo brilho das luzes ofuscantes. O conhecimento é farol tremendo. A fé um incêndio. O poder atômico uma claridade estupenda.
Bilha o sol e a terra vomita o seu pensamento, em lavas incandescentes.
Quero algo mais ameno. Uma luz morena. Uma chama de lamparina que, dançando com a brisa, expressa aconchego e paz.
Chega de néons. Basta de revelações finais, relâmpagos e raios.
Meus olhos cansados pedem luz quebrada, fogo domesticado e amigo das horas vagas.
Traga a luz morena, aquela que não basta, que pede outra mais e o mundo verá a sua verdade, o miúdo de sua alma e, manso, relaxará à sombra de um entardecer prolongado.
Afinal, que é o entardecer senão o sol convencido de que melhor bem faz ao mundo amolecendo seu brilho, amaciando seu calor em belo crepúsculo; lugar do amor, morena luz do coração!
Onaldo Alves Pereira

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A “paz” da pomba da paz

A “paz” da pomba da paz

Fui pomba branca eu sei
O que sofre a “pomba da paz”
Caçada, no cativeiro, na gaiola
Transportada com sede e fome
E, em susto permanente

Em meio à multidão, apavorada
Sou solta em lugar estranho
Ensurdecida pelos gritos e aplausos
Dos que querem só a paz

Nos estádios de futebol tem os fogos
Pipocando e soltando faíscas
Queimam as minhas asas, estressam
Os que só anseiam pela paz

Branca! Outra cor não serve
O preto da pena de outra pomba
É do mal e, soltá-la não pode
Sentem fundo, os da paz

Essa paz eu não quero, estragando
a minha paz, a que só existe
do meu jeito, cada um no seu lugar
sem ter que inventar uma outra paz.

Onaldo Alves Pereira

A Globo X Record na guerra dos Pirulitos

Compramos pirulitos sabor groselha, o meu amiguinho e eu. Primeira lambida e lá veio a disputa de sempre:
- O meu pirulito é muiito melhor que o seu! – Ganhei pontos, saindo na frente!
- Melhor nada! O seu só tem gosto de açúcar!
- De açúcar?! Como é que você sabe, seu bobão?
- Taí, eu sei, e você nem isso sabe do próprio pirulito, chupa sem saber!
- Hum, hum, hum... Exclamamos juntos, lambendo os nossos pirulitos da base à ponta e revirando os olhos.
- Deixa eu provar o seu, então! Uma lambidinha só!
- Nunca! Vai sujar o meu doce! E você nem vai saber a diferença!
- Tá bom, tem mesmo que ter medo de mostrar que o seu doce é só doce de açúcar!
- O meu, o meu?! Ora sô, é groselha pura...
- Ah é? Então, é azedo...
Acabaram-se os pirulitos na poeira, sabores misturados no chão, que sabor se resolve no muque.

O Padrão Globo de Televisão é inimitável. Não adianta a Record tentar copiar. O resultado sempre será um desastre. É, ou não é?
“A Record colocou um repórter na cidade de Gaza. O único repórter lá, durante os conflitos.”
“Exclusivo! A Globo, mostra em primeira mão a carniça e os urubus.”
Dá pra ver que meninice não é exclusividade de crianças! Custam milhões, os pirulitos midiáticos! E a razão, nos dois casos, é a mesma!
E, até parece que “nós os adultos” nos impressionamos!!
Bem, não posso deixar de dizer que, nesse caso, juro que o pirulito da Record é meio insosso mesmo e, vamos para o chão!
Onaldo Alves Pereira

O angico e eu

Estou sob um pé de angico olhando o recorte miúdo de suas folhas, um intrincado desenho de renda verde distribuído em galharia em tons de cinza escuro e verde musgo. Nada há mais bonito no mundo. Nenhuma obra de arte que consiga pelo menos arremedar essa leveza, esse frescor pincelado em movimento alegre. Penso logo: esse é o melhor lugar do mundo, essa a hora mais bendita. Fico que fico numa boa, solto, relaxado, entregue à brisa, dono do pôr do sol, em mim as cores dele e nele o compasso de minha felicidade.
O chão debaixo do angico, nesse fim de dia, pede desculpas e some carregado por uma tanajura gorda que passa apressada para ir parir. Fico pendente das folhas do angico, vou no laranja que lambe as grimpas das árvores, descubro-me ser no Ser que faz o angico e nele capricha detalhes, num bilhete que é meu mapa, o rumo e o endereço de onde vim – para – onde vou.
A brisa, o céu, o angico e eu.
Onaldo A Pereira

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Ave Obama!

Obamania, Era Obama, Obama fashion, tudo da hora!
Entraram por nós nessa novidade. Em um mundo globalizado – signifique isso o que significar – a única potência econômica e militar – ou quase, como, equivocadamente, pensam e torcem os “contra”- é a capital do mundo. Obama é, portanto, o presidente do Planeta! Constatar isso é realismo despido de pruridos politicamente corretos.
Sendo Obama bem intencionado, lucramos todos, mas não nos esqueçamos do contexto onde ele será apenas uma peça, importante, mas na gerência de um estado pesado, saturado de vícios e apêndices podres de todo o tipo imaginável. Sejamos moderadamente otimistas.
Aliás, o estado, qualquer um, a meu ver, é sempre um mal maior, ou menor, dependendo de seu tamanho.
Os maniqueístas tendem a rachar tudo ao meio, sem deixar nem sobras de mistura, o que é ledo engano.
Os Estados Unidos são um país complexo, nuançado e com tradições ricas, em todas as direções possíveis do que se poderia chamar de esquerda ou de direita. Ser antiamericano é fugir pela tangente da obrigação de pensar ao se debruçar sobre qualquer situação e ousar ter algo a dizer a respeito. Ser americanófilo dá no mesmo. Para o bem ou para o mal, ou, como prefiro, no meio, cinza denso, que é a realidade, os EUA são o poder de fato a governar o mundo, gostemos ou não.
Por pior que Bush tenha sido, e, olha que ele caprichou em não prestar, dele ganham na ruindade os governantes das teocracias mulçumanas, a ditadura chinesa, os Castros, Chávez e o Evo Morales (amigos do Lula).
Seja bem-vindo o Obama, com a sua gravata borboleta branca e esposa de tubinho, feito por estilista cubana expatriada (será que a diplomacia dele virá assim, em roupa de baile?). Para alguns, esses detalhes são demais! Que sejam!
Primeiro presidente negro dos EUA; parabéns para eles!
E o Brasil, país com maior população de negros fora da África, quando chegará a ter um Congresso Nacional com o número de negros que o dos EUA tem, sem falar em presidência?!
Onaldo Alves Pereira

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Reação solidária

A tragédia saída do forno, no calor de seu impacto, provoca uma reação solidária em cadeia que vai esfriando com a passagem do tempo, até morrer discretamente e sem dar explicações.
O sucesso, contudo, não provoca a mesma reação. A sociedade não acode quem está dando certo para confirmar e acelerar o seu sucesso. Por exemplo: uma criança que demonstra sinal de genialidade não é objeto de campanhas de apoio e, nem uma comunidade que consegue superar suas dificuldades recebe um reforço conjunto. De ambos, da tragédia e do sucesso, alimenta-se a imaginação popular, que se percebe vicariamente representada nelas.
Enquanto que a tragédia desperta uma solidariedade de consciência pesada, por ter escapado e envergonhada pela dimensão do contraste que, embora sempre existente, agora fica explícito, o sucesso provoca inveja e transferência.
Ambas as atitudes são fruto de uma visão escatológica do mundo, na qual o sucesso é uma exceção, um enxerto equivocado na árvore doutra forma estéril e, a tragédia, o esperado, porém supersticiosamente tratada como possível de ficar só no quintal do outro.
A curiosidade, tanto diante da tragédia como do sucesso, faz parte de uma comunhão instintiva com o fato humano, não obstante o estranhamento e distância ilusórias.
Onaldo Alves Pereira

A festa da vida versus a invenção da morte.

A vida é festa, que no exaurir de forças anima um átomo e continua a crescer.
A morte? Ela não existe! Aquela biológica é apenas uma mudança de figurino para não deixar cair a festa. Festa que sobra, que ganha outros salões, que extrapola essa cena e vai longe inventando eternidades.
A morte civil, essa existe e é terrível. Ela cria zumbis, corpos negados, almas sem corpos, paladares sem sabor, regressos de dor, fome sem pão, pão sem fome, paternidade sem família e família sem gente. Inventaram a morte do corpo para domá-lo. Mataram o corpo por medo do prazer.
Aleijaram os sentidos apontando a ameaça da sepultura. “És pó” gritam, toda vez que ousamos querer mais que migalhas.
Inventaram a morte os que querem ser donos da vida e, ainda, vender lotes nos cemitérios e tudo que venha entrementes.
Como resposta aponte a festa da vida e verá que o dedo indica você mesmo, eis o endereço onde a invenção da morte rende-se, ridiculamente mentirosa e a vida acerta o passo da dança e alegra o mundo!
Onaldo Alves Pereira

Não se discutem?!

Dizem que futebol e religião não se discutem. Aquele, porque é uma preferência que não foi construída por razões práticas; esta porque é feita de dogmas irrefutáveis, não sujeitos ao escrutínio da razão. A discussão, por seu lado, é baseada numa matemática apologética, é como um jogo de xadrez, e só consegue lidar com um espaço que permita movimentos racionais, usando peças com um valor exato.
A religião e o lúdico fogem a essa técnica, mas para os mesmos é importante criar outro método de discussão. Eles também têm que ser discutidos à exaustão, pois o seu isolamento fora das comparações e da crítica dão-lhe um privilégio perigoso. No lúdico e na religião se consolidam as piores políticas discriminatórias em nome de um certo “quê” além do exame crítico.
Essa estratégia tem como finalidade fortalecer a religião e o lúdico, mas findam por lhes baratear, tirando de ambos a seriedade e sufocando-os até a morte por asfixia. A tourada e a missa, só celebrada por padres (machos), são ambos ridículos e a sua suspensão para além da razão torna-os demônios a serem exorcizados do corpo da humanidade.
A missa masculina e a tourada são símbolos conjuntos onde cabem centenas de semelhantes “não discutíveis”.
Onaldo Alves Pereira

Abraço

Buscamos com Deus e o mundo o abraço mais achegado até que, confusos, não saibamos mais que coração sentimos pulsar.
No apaixonado desse abraço sumimos em Deus, perdemos-nos no mundo e já não mais nos achamos.
A unidade que realizamos assim é fato, mesmo quando não temos consciência disso.
Se um só coração sentimos, é o de Deus em nós.
Se um só coração escutamos, é o do mundo em nós.
Abraçados sabemos: Deus é o mundo e nós neles.
Esse saber é a alma de todo saber.
Ele cria e sustenta a vida.
Abraçados em Deus criamos vida.
Onaldo Alves Pereira

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O Moço

Vesgo belo, dum olho verde outro azul. Do céu um, da terra outro. Vê em misterioso olhar, ninguém lhe decifra o rumo, nem o interesse. Abre sorriso, fecha o sobrolho, irriga a face com intenções gentis, irrita-se com o tempo e, amando, é outro a cada amor. Desatina o coração no aperto dum dia que não acaba e fica torto de si, se não dá para mais um beijo. Tenta renegar os desacertos sabendo-se melhor a cada erro. Desta, que mão, daquela um toque e, se mais lhe toca, vai desdizendo, desdenhando e aproveitando muito do pouco que lhe sobra.
Anel no dedo, o dedo na viola, o brilho das cordas com o do ouro, mistura alegre, musicando noites pendentes de janelas meigas. É caro o anel. O rapaz sabe o preço. Desse preço deve pouco, uns trocados. Carrega na carteira o cobrimento desse quase nada. Era d’outro lugar. Sabia ter saudade e amava diferente.
A calça colada nas coxas fortes é de brim na lida, linho no luxo. Camisa aberta, de seda ela, em pele macia com penugem insinuante. Ajeita o chapéu com gesto discreto. Relaxa a perna e enfia a mão pela abertura da camisa, entrecoça e brinca com o peito maçudo. A mesma mão desce e agarra o saco num gesto despreocupado de tesão anunciado.
Cospe de lado. Lambe os beiços carnudos. Rebrilha com luxúria os lábios umedecidos.
Caminha maneiro, passos quase dançantes.
A bunda carnuda e redonda rebola harmonicamente, prum lado, proutro. Num desajeito elegante chuta uma pedra e sorri mistério e pensado bom. É dele o caminho, no qual cabe como de encomendado corte.
Quebra um galhinho e o enfia na boca. Encanta de então mais uma dança a dançar em si, da bunda aos ombros, dos passos ao galho, da língua à mão no saco. Ele é conjunto com o vento da tarde, as cores do poente e o rumor dos passarinhos, todo movimento da vida como ela quer desenhar-se ali.
Agacha-se à beira do riacho. Arregaça as mangas até os sovacos, e lava-se com langor. Não dá pra dizer se usa a água para refrescar-se ou como unto para uma auto-massagem, de tão suave lhe correm os dedos na pele e entre os pelos.
O vermelhão do sol que despenca de ser dia acentua o moreno do caboclo, dá-lhe rebrilho de metal precioso, une-o ao anel e à pedra dele.
Onaldo Alves Pereira

PARTILHANDO SEMENTES

Amigas e amigos,
Que os agrados e festas da vida nos sejam fartos e alegres!
Dos encantos que me despertam para os arredores onde vivo, são as plantas que enfeitam e alimentam as que mais me comovem!
Essas belezuras devem ser cultivadas, partilhadas e abençoadas com o nosso amor incondicional!
Doravante terei aqui no blog a minha lista de sementes disponíveis e desejadas. A atualização será feita toda semana ou mais, sendo que já comecei a colher sementes.
Tenho sementes de:
Milho caboclo roxo;
Milho caboclo rajado;
Zínias;
Tagetes miúdos,
Tagetes graúdos;
Amaranto rosa, amarelo e burgundy;
Girasóis,
Alfavacas: verde clara e a verde escura;
Feijão rim preto;
Celósia.

Procuro sementes de:
Araruta;
Maracujá graúdo;
Orquídeas,
Absinto,
Sálvia verdadeira;
Losna;
Artemísia,
Alevante,
Ruibarbo;
Goji;
E frutas e flores em geral.

Espero seu contato!

Onaldo A. Pereira
Caixa postal 114
CEP 74 001 970 Goiânia, Goiás
ivypora@hotmail.com

Cidade

Cidade
A cidade me cai bem
suas ruas minhas veias
meus sonhos suas teias

A cidade me deixa bem
trafegam em mim suas emoções
lanço nela minhas desilusões

Suas lojas são pra me vender
vendo paixões nos seus botequins
a cidade me quer bem

É bem que eu te queira
confusa embora inteira
sonho que não acorda
Onaldo Alves Pereira

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Creio nos crentes, não nos credos

Creio nos crentes, não nos credos. Os credos desencantam, os crentes são encantados. Os crentes inventam credos, os credos não criam crentes.Os credos caducam, são esquecidos e desaparecem, os crentes são eternos. Credos são muros, separam e estimulam violência. Os crentes pulam os muros, derrubam-nos, misturam-se e acabam devolvidos a si mesmos e à / na biocomunidade.Os crentes crêem na vida. Os credos são bijuterias que enfeitam momentos da vida. Alguns acham que esses momentos são a vida e confundem o enfeite com o corpo, por isso brigam e matam. Sempre, porém, acordam desse pesadelo e entendem que os credos só podem ser brinquedos, nunca armas de guerra.Os crentes sobrevivem aos credos e compreendem que são mais que eles. Os crentes são a vida!
Onaldo Alves Pereira

Fosse eu um certo deus

Fosse eu um certo deus
Fosse eu certo deus, “que há tanto tempo manda e desmanda sem muita contestação”, faria diferente o mito que me apresenta ao mundo. Não criaria o homem e só depois, para o seu desfrute, como coadjuvante, a mulher. Não ficaria puto da vida quando esse distinto casal, num ato de curiosidade sadia, comesse do fruto que capciosamente lhes proibira. Pelo contrário, veria nesse ato de pesquisa experimental um sinal de que havia criado bem. Não entraria nessa aventura sádica de expulsão, maldição, morte, etc. Afinal, sendo deus, esse destempero não me cairia nada bem. Não deixaria a coisa degringolar a tal ponto que tivesse que arrepender-me de haver criado a humanidade e, não conseguisse controlar-me, afogando-a num dilúvio. Principalmente, não estenderia, por tabela, a minha ira aos outros seres, matando todo mundo. Aliás, sendo todo-poderoso, amor, justiça e companhia, mudaria a cabeça desse povo e pronto. Minha nossa, principalmente me absteria de requerer e aceitar com alegria o sacrifício de animais não humanos, pelos pecados dos humanos. Tanto sangue, tanta dor... No caso da curiosidade, sempre esse maldito impulso evolutivo, de Cão, que viu e divulgou a nudez do pai bêbado, não o amaldiçoaria. Bobagem, essa coisa de cobrir corpos, de punir a sua beleza e exibir seus ossos descarnados. Cada neura!! Ainda o problema do progresso. Babel, um empreendimento filosófico-religioso-arquitetônico-urbanístico muito interessante, seria do meu agrado! Chegando às alturas descobririam que não estou precisamente no céu, mas na mente inquiridora e criativa que inventou Babel. Não ficaria nem um tico chateado (aliás, deuses não se chateiam) que quisessem ser igual a mim, encontrar-me (não é isso que desejo de todos?). Afinal, sou ou não um ser bom e, não é desejável querer igualar-se ao bom?! Nesse item é inevitável colocar a tal história de Lúcifer, outra “vítima” de uma obra “malfeita” (se não, não daria errado) e, punida por querer ser igual a deus!
Sim, jamais levaria o fetiche sadomasoquista ao ponto de sacrificar-me para salvar (de mim mesmo, de minha falta de gerenciamento e péssimo conhecimento genético) uma humanidade que fiz sem saber o que estava fazendo. No caso, esperaria um pouco, estudaria mais e só criaria quando tivesse a segurança do que fazer. Sendo deus, nem precisaria disso, e nem seria dominado por pulsões que nem Freud explica. Não chamaria um povo entre as nações para ser meu, criando um caldo explosivo de que se alimentariam racismos, conflitos religiosos e guerras sem fim. Não permitiria um livro onde, em meu nome são sancionadas leis e regras que discriminam e matam, de dentro para fora: mulheres, gentios, portadores de deficiência e de certas doenças, os de outras crenças ou descrentes, os gays e lésbicas, os escravizados (com a sanção de deus), os pobres etc.
Enfim, renunciaria à minha deidade com todo o estardalhaço possível, se continuassem a atribuir-me esses mitos monstruosos, frutos de uma imaginação desequilibrada. O pior é que a loucura sempre exerceu um fascínio (nem sempre ruim, pois pode criar histórias divertidas) irresistível. Mesmo assim, desceria do “trono” que me impuseram e desabrocharia como uma macia e perfumada flor na mente de todos os seres.
Se eu fosse esse tal deus tornar-me-ia Deus!
Onaldo Alves Pereira

Eu sou a Paz!

A paz que queremos não começa nas ruas, mas dentro de cada um de nós. Ela está na organização de nossas mentes e na tradução de nossos bons pensamentos em atos.
Mesmo quando queremos exigir medidas sociais que garantam a segurança pública só o faremos com eficiência a partir dessa paz interior. Uma pessoa perturbada interiormente ao gritar por paz, o faz com um grito de guerra!
Essa paz não pode ser prescrita por receita e nem está numa cápsula religiosa. Cada um constrói a sua paz de seu jeito e a seu tempo.
Hoje superabundam as soluções de pronta entrega, as simplificações genéricas estão na moda. A esquerda política diz que o problema é social, a direita que os bandidos são a questão! As religiões oferecem os seus deuses e salvadores como a solução. Interessante é que essas mesmas religiões vivem o contrário da paz se dividindo e se subdividindo diariamente em grupos rivais e, pregando a maldade do ser humano, a ira de deus, o domínio dos demônios e o fim do mundo!
A paz cresce no mundo. Nunca o mundo experimentou tanta paz e progresso. Por isso mesmo, a violência ganha tanta evidência, ela tem um contraste contra o qual aparece tão destoante!
A paz interior cresce com a independência e a individuação das pessoas. Quanto maior e mais favorável o espaço do ego, maior a paz mental e espiritual.
Um sinal simples disso, as multidões que acorrem a assistir o filme Código Da Vince apesar da proibição da maioria dos líderes religiosos. Esse exercício de liberdade e de maioridade é criador de paz!
Faça o seu caminho interior da paz. O primeiro passo é a intenção. Seu próprio espírito fará o mapa a ser seguido e o ajustará durante o percurso!

Propostas a serem apresentadas aos políticos:
Cidades:
- reurbanização das cidades, levando-se em conta os aspectos estruturais e estéticos;
- a oferta de vantagens para quem quiser sair das grandes cidades;
- a urbanização total das favelas em dez anos;
Política:
- o estabelecimento de um rígido vestibular para os candidatos;
- a criação de cursos superiores de política;
- o corte pela metade no número de deputados e senadores;
- a real federalização do estado brasileiro.

Que a paz se faça na prática livre e prazerosa do bem!

Onaldo Alves Pereira

Contra a violência o remédio de minha paz!

Contra a violência o remédio de minha paz!
Como construir a paz semente, a minha paz?!
Dois passos pra lá, dois pra cá fazem um belo xote!
O primeiro passo a minha consciência que, uma vez solta, seguindo a música do coração de Deus, será poder transformador!
Para que se solte ela precisa de espaço amigo e, ele é o conhecimento, a apreciação da vida, a sensibilidade e qualidades afins.
Seus maiores inimigos são: a ignorância, a rigidez, o exclusivismo, o simplismo e semelhantes.
Comece instruindo-se, aprendendo a apreciar a beleza, lendo e cultivando o espírito e a auto-estima.
Segundo passo; assuma-se como mundo e participe de sua vida.
Um jeito bem prático e atual de se fazer isso: a ação política. Para essa eleição faça uma lista do que quer que seu candidato realize e tenha o propósito de acompanhá-lo durante o mandato.
Partilho aqui alguns pontos de minha lista na questão da violência:
- acima de tudo, escola e trabalho para todos;
- formação médico-pedagógica para os agentes de segurança;
- a auto sustentabilidade dos presídios (presídios agrícolas longe das cidades, onde os presos produziriam da lavoura à industrialização dos alimentos, por exemplo);
- penas alternativas e escola e trabalho assistidos para quem comete pequenos delitos;
- tratamento médico psicológico para os presos renitentes e o seu isolamento;
- a substituição das armas letais por armas de alta tecnologia com efeito paralisante;
Continuarei a partilhar outras propostas e gostaria de conhecer as suas.
Serenamente, sem histeria ou fanatismo, revelaremos na cara do mundo a face divina!
Onaldo Alves Pereira

Violência

A sociedade parece movida a sustos. Com a explosão de uma onda de atentados em São Paulo, reagimos como se só agora a violência tomasse conta. Numa visão idiotamente reducionista, a violência é tida apenas como tiros, ataques e coisas afins. Seria como tomar o pus pela doença e, não apenas um sintoma de algo maior. A violência nossa de cada dia é insidiosamente mais nossa obra do que imaginamos. A fome, o desabrigo, a favelização das grandes cidades, os racismos, os machismos, as hierarquias sociais e religiosas, a indiferença, o mau voto, o legalismo sem alma, o estado forte etc tudo isso, somado, resulta no que está aí! A ponta de tudo é a religião mal vivida e apocalíptica, que torce pelo fim do mundo e classifica a todos como pecadores por natureza! Se é assim, por que a surpresa?! Surpresa é não estar pior!
Endurecer leis não resolve!
A polícia é parte do problema!
Sensacionalismo não ajuda!
Culpar os “bandidos” (aliás, quem são os bandidos?) não explica as coisas.
Correntes de oração pouco auxiliam!


O que fazer então?!
Começar com uma transformação de nossas consciências. Reorganizar a sociedade através de estruturas novas e mais humanas, com mais poder local e menos estado, mais contato direto com as lideranças e menos burocracia, mais educação e trabalho para todos e uma política diferente da que está aí! Reformar as religiões para que deixem de ser instrumento de poder e de controle e venham a ser veículos de encantamento e de progresso espiritual.
Acima de tudo, é indispensável resgatar o valor positivo absoluto do ser humano. Entender que, criado por Deus bom, o mundo só pode ser bom. Afinal, como esperar algo bom de um mundo supostamente caído?!
Sendo Deus bom e boas as suas obras, então podemos trabalhar pela plena consciência e realização dessa bondade!
Esse é o caminho para a boa vida, e não apenas a solução pontual de situações de crise!
Onaldo Alves Pereira

Chat

Passava horas na Internet, no Chat, pesquisando sites sobre o assunto que empolgasse no momento ou simplesmente lá. A noite era pequena para sua sanha. No Messenger conversava com alguns internautas. Prosa micro, cifrada em letras econômicas, dizendo pouco, apenas querendo fazer constar o estar on-line. Com um a coisa andou e aprofundou, chegaram a trocar nomes e fotos pessoais. Várias vezes, no auge da intimidade, revelaram os números dos respectivos celulares.
A dor nas costas incomodava. Num tempo de cinco meses trocou a poltrona do computador quatro vezes, foi ao médico, fez terapia, massagens e tomou oitenta envelopes de anador. Com raiva, por conta da dor, viajava pelas salas de bate-papo soltando veneno.
Entrava numa sala com dois ou três nicks diferentes e forjava uma troca de desaforos em aberto até envolver quase todos numa guerra geral. Era como uma explosão de nervos, tensões acumuladas achando canais de afiar as garras na tela do outro. No calor da discussão, a sala inchava como se fosse sobrar da telinha e espalhar nicks e respostas malcriadas pelo quarto. Depois, ia saindo gente até ficar desinteressante.
Naquele dia, ele, entusiasmado que estava, tanto empenho colocou na quizunga virtual, que brigou consigo mesmo, descobrindo em seu outro um grande argumentador, talvez o único que valesse à pena. Depois de onze dias, cinco horas e trinta e dois minutos arrombaram o seu quarto. Ele brigava com doze ele mesmo!
Onaldo Alves Pereira

Êita dia de Deus

Um dia desses, que poderia bem ser qualquer um. Roto de velho no modo de urdir sua trama, o dia mal espiava além da trilha comum. É pouco de si, fundido num bloco anônimo, sem risco que puxasse para fora desse atávico jeito de ser.
Aí, sem motivo alegado ou força indutora, o dia virou. Tudo ganhou cor, tom, musicalidade e sabor nunca dantes lobrigado. Até o gato velho, já encostado para morrer, levantou-se, sacudiu o pêlo e pôs-se a lamber de si a sujeira dos últimos anos.
Bebida, num gole à breque, a água estalava como cristal pisado e seu fresco aninhava na alma sensações azuis.
Alevantado, o olhar tirava do horizonte os fumos e via coisas a cobiçar, fazendo arder no peito ensaios de felicidades. Antes dona da casa, a angústia jogava na mala os trapos, que ia simbora.
Uma roseira engruvinhada, que não já morrera por não saber de que mal morrer, tantos eram seus achaques, espirrou rosas frescas e grandes para um sol que lhe fazia cócegas na seiva.
Embrulhadinho num papel marrom o pão, quente do forno, cheirava que desentendia as papilas gustativas com mais que elas estavam usadas a ter.
Na cama, a moça sentiu o macio frio da colcha de retalhos e aconchegou-se aos sonhos com amiga soltura.
Destemida, a rolinha ciscava a quirela das galinhas. O homem parando de carpir enchia a mão com a terra fofa numa descoberta do óbvio que sempre lhe escapara.
O santo Antônio, já lascado pelo tempo piscou para o menino em seus braços enquanto a moça velha reganhava, num repente, a certeza do amor.
Virando a curva da estrada esburacada, chutando cascalho e saltitante, o rapaz fazia o mesmo trecho com alegria.
Coçando o saco o homem pensava: É hoje! Olhava com tesão a mulher de tantas noites que dela achava estar enfarado.
Caindo de entre folhas verde, encerado, esborrachou na barranca um jenipapo maduro, perfumando o ambiente onde era mais dia esse dia!
Ô gente, que dia! Gritou a velha ajeitando os seios no vestido também velho.
O dia sentiu-se dia e explodiu numa noite que era estrelas no céu, pirilampos na terra e comida simples, mas boa, reconfortando o estômago de muita gente.
Êita dia de Deus!

Onaldo Alves Pereira

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Viola

Viola
Toca viola sentida
coração rasgado
dentro de um peito viola

E nele incha a alma
tresnoitada de esperar
que de meu bem
me chame a vida

Onaldo Alves Pereira

A alma

A alma
A alma tem que ser inteira,
redonda, como no céu,
a lua cheia

A alma tem que ser tonta,
como em noite de lua,
enamorados na terra

A alma tem que ser alegre,
colorida de leve e muitos tons,
orquídeas no jardim

A alma tem que ser alma
alegre borboleta, tonta
de néctar forte, inteira
Onaldo Alves Pereira

Na fila

Tinha, logo depois de mim, uma mulher miudinha e curtida pelos anos.
Ela tossia e falava, falava e tossia, a mulher pequena e velha. Puxava do seio um trapo gasto, mas limpinho e esfregava a boca que teimava em dizer tudo. Assunto não faltava, era a vida. Muito que não contava, porque não era íntima ainda. A fila andava a passos lentíssimos e a intimidade crescia, o tempo e a proximidade favoreciam.
Sofrida desde antes de nascer, que a mãe fora traçada, sem conforto, por um cara conhecido, mas fugidio. Criança abandonada no barraco feio. A mulher contava e olhava o fim da fila sem ver nada que lhe apressasse a narrativa. Vertera seu primeiro sangue no morro, acostumado a outros sangues.
Descera porque tinha que trabalhar. Fizera de tudo. Isso mesmo, de tudo, não dê uma de pudorento e exclua isso ou aquilo. Mais sangue, e ela pariu uns pivetes que já lhe saíram do ventre despencando ladeira abaixo, para Deus sabe onde. Era por amor que ela seguia um malandro toda vez que lhe estalava os dedos. Fazia por ele desde o óbvio nesses casos, até entregar pequenas encomendas. Era forte sim senhor, que com essa sina ainda ria da vida e catava dela, aqui e acolá algum agrado.
Animadas, outras mulheres falavam também, complementando, tecendo, discordando, zombando e puxando segredos. Ela nem ligava e continuava tossindo palavras enquanto ouvidos houvessem cativos e tão disciplinadamente em fila.
O primeiro pivete morrera numa noite mal vinda. Tiroteio, confusão e o corpo do menino achado numa daquelas instituições do governo. Engraçado como corpos mortos ganham um valor súbito e inusitado. Antes ele comia e não comia a desimportância das autoridades. Doente, o corpo era menos valorizado ainda. Ossos e pele tostada pela inclemência de um sol curioso, fazia ele a dança de subir, descer, desviar de balas, negacear e, até com certo charme, esse gingado dos exus. Agora, para ser liberado, o corpo tinha que passar por tanto, parecia tão importante, queriam saber dele até o não sabido. Bem que agora esse corpo podia ficar por lá mesmo, já que o queriam tanto e dele certificavam tão bem os dados...
Ela tava nem aí não! Deus tem tudo escritinho e adianta nada querer fazer de conta que não!
Chorar? Sim, chorava fácil, como não chorar?!
Tudo que lhe saía do corpo, sem que lhe tentassem conter o fluxo, vinha bem. Líquidos, sons, mímicas e palavras, sobretudo essas, eram o que lhe dava a vida como prova de que existia mesmo essa tal de liberdade.
Vozes do mundo das mulheres em fila. Para que serve essa fila? É a do, ou a da? Bom, eu queria a outra, mas essa também serve.
Pois a patroa age assim. Disse que eu cheirava forte, querendo dizer que fedia mesmo. Mandou tomar banho, sem gastar muita água e depressinha que o serviço esperava.
Espera, eis aí uma coisa que conheço bem. A fila para entrar, ser atendida e sair. Parece a vida, essa fila. Atendida? Sim, não entendi bem a papelada que rapidamente me passaram diante da vista. Ainda bem que não esperavam que eu lesse tudo aquilo. A fala baixa e codificada do servidor não compreendi, também. Não me olhou e nem ao papel que trazia. Papel, pois é, tanto papel! Parece que é até assim como a pele do mundo, descascando.
Tem que ir lá ver como faz. É preciso ver no que vai dar. Terreiro de macumba, igreja de crente, reza pro santo, repartição pública, voto, em político e para Deus...
Tudo na mesma, uma fila comprida que a gente pega porque tem que pegar.
A conversa anda, mas a fila não e a zonzura de tanta história, de vozes, de tosses, gemidos e gungunados, arranhados por risadinhas indecentes, vai endoidando o redondo da cabeça e do mundo até girar, girar, girar numa fila sem fim nem começo, que sobe e desce rumo ao nada...
Onaldo Alves Pereira

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

“Poder de Deus”

O deus no controle não pode ser Deus porque precisa de algo ou, exerce uma função de ocupação de espaço como se lhe escapasse algo. Deus não necessita nada e nem tem que sobrepor-se ou, tomar, ou preencher, Deus é tudo em todas as coisas e nelas, pleno, sem vírgula ou reticências. Nesse sentido, falar do “poder” de Deus é um contra-senso.
Poder implica necessariamente alguma fraqueza e domínio; enfim, uma luta interna, uma necessidade contínua de auto-afirmação, de estabelecimento de um processo. Deus é mais que o poder, que o domínio, do que as oni (onipotência, onisciência, onipresença), do que deus, do que o que se diz de Deus, do que o Mais.
Deus é Deus, sem ter que ser Deus.
Onaldo Alves Pereira

Não ama

Obedece quem não ama. É obedecido quem não é amado.
Qualquer movimento do ser humano com Deus só se conjuga com o verbo amar.
Quem ama não precisa obedecer, apenas amar.
Só ama quem não tem que amar e nem é obrigado a obedecer.
O ser amado não aceita obediência, só amor.
Onaldo Alves Pereira

sábado, 17 de janeiro de 2009

Nunca





Nunca nos arroguemos o direito de organizar o amor de acordo com as convenções sociais de cada época.
O amor tem as suas próprias maneiras, sabe seus caminhos e é dono de seus superiores recursos.
O que sair do amor será sempre para o bem de todos.
Onaldo Alves Pereira

O Messias

Cada ser amado é o messias,
esperado antes que venha,
esperado depois que veio,
vivemos de sua vinda
e vivemos pra sua volta.

Onaldo Alves Pereira
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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Tem que ser forte!

Vários sistemas de conhecimento e religiosos pressionam o ser humano dizendo-lhe que tem que ser “forte”. Não pode ficar doente, por exemplo, isso seria um sinal de falta de fé ou de outra falta qualquer.
A culpa por ser fraco ou fora da expectativa do grupo ou de “deus” é muito comum e, faz sofrer além do sofrimento do corpo.
Ora, somos o que somos e, nesse espaço que nos toca, enfeitamos a vida com nossas dores e com nossos prazeres!
Onaldo Alves Pereira

Devolução.

Difícil exagerar a importância de constantemente devolver-se a si mesmo. Na sociedade a pessoa tende a ser seqüestrada de si mesma e instrumentalizada para fins que não o seu bem viver ou, a criação dessa possibilidade para os outros seres. A própria pessoa sai de si na tentativa de adequar-se a modelos oferecidos como o “ideal” ou o “obrigatório”.
Esse alheamento de si provoca no ser um estado de “morte” pessoal.
Devolver-se à integridade de si mesmo, ao corpo, ao prazer, à dor, à realidade própria, à alma e ao lugar verdadeiro onde está, é essencial à vida.
Onaldo Alves Pereira

Livremente

Ser sem ter que ser. Apreciar ao invés de obedecer. Sofrer sem pedir desculpas. Gozar com todas as forças. Tomar o caminho por ser interessante, mais do que pelo seu destino.
Não ter todas as respostas. Fazer parte do fluxo natural da vida nessa entrega ativa e generosa, melhora o mundo e acelera o seu progresso.
Onaldo Alves Pereira

Israel e a Palestina, a Guerra do “Fim do Mundo”

A Terra é de todos os seres. A humanidade usurpa o título de propriedade, numa verdadeira grilagem planetária. Pior, divide e subdivide os mapas alucinadamente. Clãs, tribos, nações: inventam cercas pelas quais fazem guerras que duram milênios, gastando mais com armas do que com alimentos.
Os movimentos migratórios em busca de meios de sobrevivência e de poder refazem as fronteiras com sangue. Nenhum povo nasceu na terra onde está. Não existem nativos, a não ser do mundo. As nações indígenas das Américas provavelmente vieram da Ásia e da Polinésia. Depois, chegou mais uma leva de colonizadores, os europeus, os africanos (forçados) e, mais asiáticos. No chamado Velho Mundo, o mesmo: arianos, fenícios, vikings e milhares de outros se movendo como ondas e destruindo “civilizações”, criando outras, mesclando. A África, o berço da humanidade, ainda passa por esse processo.
Palestinos e israelitas também invadiram a terra onde vivem, pela qual brigam até hoje. A Bíblia conta como “Deus deu” aquela região aos descendentes de Abraão (no caso ambos: ismaelitas e israelitas). Num. 21; 34,35; 31; 17,18; Deut. 3,6; Josué, 6,21-27 Esses textos dão um exemplo de como foi e, infelizmente, continua sendo. Tudo azeda ainda mais, com o elemento religioso. A terra é “santa” e, agora, em um morrinho duas fés querem espaço para o “seu” templo.
Nos EUA, cristãos fundamentalistas geram uma vaca vermelha para os judeus ortodoxos sacrificarem no monte do templo, como manda a Bíblia (Números 19; 2), depois que derrubarem a Mesquita do Domo, para a reconstrução do templo judaico. Aí, o messias judeu – correspondente ao anticristo cristão - virá, acreditam e acontecerá o amargedom, a última batalha. Crêem que com a vaca vermelha apressam a catástrofe! Eles querem a guerra!
Só não vêem que a guerra sem fim, desde a tomada de Canaã, ou antes, as guerras bíblicas, a diáspora, o holocausto, a intifada e hoje, é pior que qualquer amargedom. A vida, nesse contexto, não tem nenhum valor!
Por que não vivem todos juntos, em um mesmo país, secular, sem nacionalismos idiotas, e partilhando tudo?
Os estados – todos – deveriam ser desmistificados, reduzidos a estruturas administrativas e de serviços, perdendo as conotações nacionais. Isso traria paz e prosperidade para todos e o fim dessas monstruosidades arcaicas que são os exércitos.
Esse desenvolvimento na evolução da sociedade é inevitável; tomara não tarde muito.
A desproporção é da essência de todo conflito armado. A morte de qualquer um é indesculpável! Mas a pior desproporção é a das idéias e visões de mundo por detrás das guerras.
Oro a Deus rogando que desconvença os que se acham especiais como povos ou religiões. Que lhes diga que a paz é a única especialidade a ser buscada e amada!
Onaldo Alves Pereira

Sempre mais

Somos sempre mais que as circunstâncias e os contextos. Somos mais que a imagem que temos de nós mesmos. Somos mais que as visões que têm de nós.
Somos mais em Deus!
Às vezes, até usamos uma máscara que nos diminui e a tomamos como a nossa verdade. Também a sociedade gosta de impor-nos as suas expectativas como moldes definitivos, estratificando-nos em classes e categorias.
Somos mais do que isso.
Às vezes, para nosso próprio conforto, construímos vias de fuga e nos fazemos menos do que somos e escapulimos de nossas responsabilidades. Somos mais do que isso!
Outras vezes, nos colocam pesos tremendos, esperam que sejamos super algo, perfeitos e, que consigamos satisfazer as demandas que nos colocam, da família à profissão.
Muito mais do que isso! Somos o que somos e nunca passíveis de quaisquer avaliações ou medidas que nos queiram enquadrar ou idealizar falsamente.
Somos Mais em Deus, que em nós trabalha a sua sublime obra de arte, o seu mais generoso sorriso!
Saber disso aquieta o nosso ser e desmancha os pesadelos mais escabrosos. Saber disso devolve-nos à verdade da vida e ao seu prazer!
Em Deus somos Mais!
Onaldo Alves Pereira

Grupismo

Prega-se o grupo como obrigação social. Não pertencer a um grupo, igreja, partido, clube, galera etc. significa alienação. Essa ditadura do grupo, primeiro falsifica esses ajuntamentos, tirando deles o cimento da genuína convicção. Depois, banaliza o indivíduo ao desconfiar de suas escolhas não grupais. Isso vai ao ponto de alguém tornar-se suspeito de algo ruim só por não ser de algum grupo. Ele não se mistura! Ela é esquisita, sempre só, dizem, como prova sinistra de algum desvio.
O grupo, quando voluntário, convencido e aberto para entradas e saídas, sem maiores traumas, é bom e alavanca o bem da sociedade.
O indivíduo que não se filia também é normal e bom, sendo a seu modo, um elemento de equilíbrio e manutenção do direito à individualidade, sem coação ou proselitismo.
Claro que, o proselitismo, quando dialogante e, sobretudo, inteligente e bem informado, também é bom.
O ideal é que a decisão de estar ou não dentro de um grupo seja absolutamente livre e, nunca, definidora da qualidade da pessoa.
Onaldo Alves Pereira

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Pedaços

Os pedaços que somos
- o mundo em pedaços –
são as partes do mosaico
pedaços para
não pedaços de

Os cacos que vemos em nós
e nos outros
são peças do vitral
todas insubstituíveis
na figura final

O que nos falta não é o que perdemos
mas o que seremos

Seremos porque já somos
na parte, o todo
completos na arte que nos faz.
Onaldo Alves Pereira

Carne – negada e idealizada

Criamos um mundo de próteses e estereótipos. O belo que vemos retratado no nu de revista não é a pessoa que serviu de modelo, mas o conjunto de técnicas de fotografia e de maquiagem combinados, mais o acaso. Usar esse modelo de beleza criado em laboratório como a medida comparatória do que queremos em nós e nos outros é criar um demônio que há de devorar-nos a alma.
Da mesma forma, a estética da santidade cria um ideal desencarnado. O que sobra de carne nos santos é pálido, emaciado e cadavérico; algo como um sinal de que a morte é o que sintetiza a santidade. Adequar-se a esse modelo faz sofrida, mais do que o comum, a busca humana do bem.
Essas opções, a carne idealizada e a carne negada, oferecem uma prótese para um membro ainda no lugar, criando uma crise impossível, que tem desdobramentos psicológicos, sociais e culturais.
Tudo bem que se queira criar imagens estereotipadas, mas que não sejam transformadas em padrão. O mito é um brinquedo profundo, mas só isso. Trazê-lo para a expectativa real é danoso.
Onaldo Alves Pereira

Amparo

Fiquei conhecendo Amparo na zona, uma safada, completo descaramento e desapego; vivia de dar e, dando, se redimia do que não dava. Não dava porque seus humanos limites mais as constrições de espaço e tempo, impediam que atendesse toda a freguesia, carente de comungar suas carnes profundas. Não era larga, recorria à pedra ume, sabia suas mutretas e meia dúzia de simpatias. Esquecera metade da mais eficaz, um desses brancos a defraudara tão desapiedadamente, a ela tão dada, caridosa no mais íntimo do ser.
Depósito dos desejos, recebia também os líquidos, plasma do gozo, prazer materializado pela graça especial das contrações com que apalpava calorosamente o membro visitante.
Amparo era boa, seios pequenos e firmes, bunda grande, mas no lugar, inteira e sem marcas a não ser o sinal deixado pelas unhas dum amante que não entendera a espiritualidade do momento e, carnal, feriu a pele pura e inocente de quem se entregara confiante ao serviço sublime de seu prazer.
Ela é terra mediterrânea, sem mar que lhe venha fazer praia, é assim para dispensar pontes, ser aberta a estradas que lhe cheguem de todos os quadrantes.
Amparo conhece o bem como poucos seres jamais o puderam conhecer; sempre o recebeu escancarada e de tanto ser penetrada com tanto desenfreio, ficou dele senhora e lhe soube de cor a alma. Vez isso via sua manifestação chamada tesão, esse desespero da vida querendo certificar-se de que é mesmo vida.
A única dúvida que lhe adveio foi fruto dum desejo inusitado, amada de surpresa por um garotão taludo, ainda imberbe. O rapagão catara as partes com uma mão, mal despira as calças e lhe fizera pontaria com elas dizendo: É isso que vou te dar. Era claro que seu membro descomunal lhe servia de muleta, contrabalanceando outras possíveis deficiências e ele o brandia no rumo dela com a fúria de quem ameaça com um porrete eloqüente. Ato em curso, o garoto se entusiasmou e lambeu a sua virilha com uma língua macia e morna fonte de saliva. Ela, arrepiada, agarrou a sua cabeça com devoção e vibrou os quadris num ameaço de valsa. O moço sentiu o que conseguira provocar naquele corpo, que tinha por calejado e mestre no teatro de pôr no palco um prazer de araque. Esse resultado rompeu nele uma virgindade d’alma e ele conheceu a paixão, descobriu o primeiro amor. Subindo o corpo sobre o dela meteu de uma vez o membro e falou gemida confissão de convertido ao seu ouvido: eu amo você, meu amor!
Amparo, tentada pela serpente, quase convenceu-se de que também amava um só, pela vez primeira. Não tomou muito empenho dos mistérios da alquimia que habita no seu corpalma, para desse arcano arrancar o sentido maior. Sabe que acaba de ser ensinada que, lambida ali ,se torna capaz de ser amada e amar por força desse descarrego elétrico, prazer de se descobrir carne viva, puro espírito em carne pura.
Amparo seguiu a redimir a quem consiga pagar ou alcançar os seus favores; que é favor mesmo, doação, que não se vende o corpo, apenas, talvez alugam dela a cama e compram-lhe o tempo. É por hora que atende.

Onaldo Alves Pereira

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Espiritualidade pé no chão

A espiritualidade pé no chão, empoeirada de estradas mis, com feridas, tez morena e voz rouca é a que melhor nos ajuda.
A sua luz não ofusca, é calma e romântica como a de uma vela solitária.
Nada exige. Oferece tudo.
Não aprecia privações, jejuns ou penitências.
Gosta de fartura e é amiga da carne sensual e saliente.
Fala em prosa e verso.
Dedilha violas antigas e toca em bandas pops.
Descrê sem culpa.
Busca o avesso das coisas.
Não topa fazer revoluções e evita os extremos.
Curiosa, pergunta muito, responde pouco.
Nem a Deus chama de senhor.
Retira dos joelhos os adoradores e lhes diz que a ninguém adorem.
Dispensa as barganhas, os louvores e os milagres.
Sem mestres, avatares, sacerdotes, profetas ou messias vê em cada ser a obra em andamento do Artista.
Animais humanos ou não humanos, minerais, plantas e espíritos são tidos por ela como iguais nas Mãos Preciosas.
Essa espiritualidade chã limpa os nossos olhos para nos enxergarmos mundo: bondade em construção.
Ela nos descobre no ventre da Comunidade Divina, mundo-feto a ser parido no Dia do Sorriso de Deus.
O cultivo dessa espiritualidade devolve-nos a nós mesmos, ao mundo e a Deus!
Onaldo Alves Pereira

A minha fonte

Sou da fonte o motivo, ela jorra para mim
Sabe a fonte minhas entradas
E, delas, o mapa traz em si

Da vida, caudal imenso
Solta de si a fonte
Em sabores, cores, odores
Na visão interior ao ser
Profusão de muito mais
Que tem para dar de si, a fonte

Ela só é fonte por mim
Seca se não sou dela todo
Finda vazia, embora cheia
Se não quero dela sempre mais.
Onaldo Alves Pereira

Sofro

Desconforto de canteiro remexido é o que atura o meu corpalma. Ele, qual terra arada e adubada, busca semente, quer abraçar raízes. Sente rompidos seus veios, removidas suas pedras, exposto ao sol e ao vento na soltura de sua maciez. O meu corpalma, sulcado por arado profundo, sabe a dor desse trabalho. Reconhece a dureza do aço que dilacera. Aceita, contudo, tais desatinos pela semente que cobiça. Para alimentar raízes. Ceder vida. Ser sustento. Fazer sombra.
É desse destino que meu corpalma sobrevive, carregado por ele através das estações da vida. Todo ele só isso!

Onaldo Alves Pereira

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Não é juiz

Deus não é juiz e nem julga! Essa função é arte da fraqueza humana, sinal da incapacidade de consertar as coisas. Deus é médico e remédio, se diagnostica, também sara!
A Boa Consciência existe na constatação universal da bondade da vida e de Deus como a fonte dessa bondade, disponível em todos os seres. O julgamento e a condenação de um ser que seja renega tudo o que sabemos dessa bondade e, torna a vida um filme de terror sem sentido.
Nesse contexto, de uma possível condenação, ninguém escaparia, nem Deus. Findariam todos fracassados, inclusive Deus. Como poderia jamais alguém, supostamente salvo, ficar feliz sabendo de um só perdido?!
As contradições dessa manifestação da existência na Terra só se explicam como recursos didáticos. Para a criança o primeiro dia de aula não faz sentido e faz sofrer. Assim, também, esse nosso momento.
Estamos seguros, porque, amor infalível é Quem imaginou o mundo, os seus caminhos e o seu sentido, que só pode ser muito bom!!
Onaldo Alves Pereira

Materialidade

Muitos querem negar o corpo, seus desejos e necessidades. Dizem que ele é a gaiola da alma. Essa é uma mentira antiga que, em nome de Deus, permitiu a venda dos corpos dos escravos; sancionou o abuso do corpo da mulher, a violência contra gays e lésbicas e a discriminação aos portadores de deficiências. Essa mentira chamou de bela a pobreza, de privilégio o conforto e colocou nos altares ossos e mártires. Para ela, a única nudez permitida é a dos ossos!
Para neutralizar o espírito diziam que espírito não tem sexo, como se isso fosse um sinal de nobreza!
Desincorporado, o mundo foi facilmente dominado por uma elite que jamais negou seus corpos, que, se para ela também são gaiolas da alma, o são de ouro e almofadadas.
A boa espiritualidade é aquela que preza e mima os corpos e ensina que, de fato, somos corpalmas.
Sem a materialidade do ser, seus gozos e dores, só sobram fantasmas sem lar, gosto ou paz.
Onaldo Alves Pereira

domingo, 11 de janeiro de 2009


Somos
Somos a planta alimentada pela respiração do Amado
Somos o corpo que responde ao toque da Amada
Somos a tela onde o Artista se coloca
Somos a tinta da arte da Pintora
Somos o olhar que seduz
Somos o sono que recebe o Sonho
Somos no Ser que é Mais!
Onaldo A. Pereira

O maior terrorismo

Não há terrorismo maior (nessa época tão preocupada e sofrida com isso, talvez entendamos) do que a crença necessária, o ter que crer para viver.
A raiz de todo terrorismo é a noção de poder impor condições via recursos extremos e resultados definitivos. De onde vem isso senão do grande terrorismo das opções radicais entre céu e inferno, que são as religiões. Essas duas bombas, o céu e o inferno, ambas impostas por quem tem o poder de decidir, são usadas como motivadores de crença. Elas tornam necessárias as salvações e os salvadores, validam as crenças, definem as éticas e moldam as sociedades à imagem e semelhança do terror Maior.

Onaldo Alves Pereira

Aprecia o belo

Vilania pura esse arrogante apreço pelo belo singular. Não que pense ser baixo apreciar o que é bonito. A estreita concepção de beleza que obedece só as leis do mercado, segundo as quais, juventude, simetria e qualidades culturalmente definidas, de muito longe são os moldes únicos, é que é repugnante.
O filtro da beleza não pode só ser os meus olhos, nem seus indicadores só os de uma época. Não se deve reduzir beleza ao que está na vitrine do dia.
Belo o vinco profundo talhado pelo sofrimento num rosto rude. Apreciável o desencontro de linhas que arranja de forma diferente uma face. O pequeno, em sua economia de membros, é bonito e, agradável a visão do que, embora lhe falte algo comum nos outros, funciona perfeitamente bem. Como não admirar o sorriso desdentado na largura de sua espontaneidade. Um rosto índio enfeitado com criativos modos de exagero é bonito. O que foi feito sob medida, na simetria mais rígida, é belo.
Dum extremo ao outro, a beleza trafega, sempre dona de todos os olhos não obstante donde olham e procurando o que. Na diferença o olhar diverso é saciado e sai a inventar mais formas e outros jeitos de ver.
Na generosidade dos olhares a vida relaxa e sabe-se bem mais e, pronta para novas descobertas.
Quebremos de vez a lente da uniformização tacanha. Tragamos ao palco do mundo todas as cores, tamanhos, idades, enfeites e vestires e ele será alegre.
Amish, indígenas pelados, negritudes várias, dos orientes todas as caras, ciganos maneirismos, juventude transviada, clássicos trajes, da roça a simplicidade colorida e das cidades a profusão de gingados. Tanto para lá e tanto para cá, no meio tudo e o mais que vier a ser. Nesse entrelaçamento absurdo de fios, o rosto completo do mundo, seu corpo perfeito, a vastidão de sua alma!
Onaldo A. Pereira

sábado, 10 de janeiro de 2009

O angico e eu


Estou sob um pé de angico olhando o recorte miúdo de suas folhas, um intrincado desenho de renda verde distribuído em galharia em tons de cinza escuro e verde musgo. Nada há mais bonito no mundo. Nenhuma obra de arte que consiga pelo menos arremedar essa leveza, esse frescor pincelado em movimento alegre. Penso logo: esse é o melhor lugar do mundo, essa a hora mais bendita. Fico que fico numa boa, solto, relaxado, entregue à brisa, dono do pôr do sol, em mim as cores dele e nele o compasso de minha felicidade.
O chão debaixo do angico, nesse fim de dia, pede desculpas e some carregado por uma tanajura gorda que passa apressada para ir parir. Fico pendente das folhas do angico, vou no laranja que lambe as grimpas das árvores, descubro-me ser no Ser que faz o angico e nele capricha detalhes, num bilhete que é meu mapa, o rumo e o endereço de onde vim – para – onde vou.
A brisa, o céu, o angico e eu.
Onaldo A Pereira
Cuidado, eu sou “salvo”!
Vi escrito em um carro: (adesivo) “Cuidado, esse carro pode ficar desgovernado, a qualquer momento posso ser arrebatado”!
Os complexos filosóficos, religiosos e político por detrás desse pensamento são horrendos, um verdadeiro terrorismo contra tudo o que possa haver de melhor no ser humano e no mundo. Conclui que aquele motorista está acima e sobre os outros, que ele e não os outros serão arrebatados... É como fazer figa, botar a língua para fora para os que não chegarem lá e, isso, antecipadamente... Essa é a religião da salvação individual, uma monstruosidade!
Onaldo Alves Pereira
Anoitecer
O anoitecer faz “humm” de gostoso e derrama seu dourado pelos cantos antes de puxar sobre a terra seu manto escuro. O gorjeio dos pássaros sinaliza a hora do ninho. Os aromas acentuados oferecem-se sobrando.
A estrada fica mais comprida para os pés que voltam pra casa. Os amores acordam dos desvios do dia e sabem amar melhor. Debruçados nas janelas, os bem-quereres esticam os olhos.
Bichanos e cachorros acordam do calor da tarde e brincam, espoletas.
Temperos refogados harmonizam o lar.
O que resta do dia faz beicinho de abuso e esconde a cara no regaço da serra.
Onaldo Alves Pereira
A mãe do mundo
Você e essa sua boca! A mãe do mundo apareceu na ponta do som de seu nome, dito num pouco de sopro. Jaquíria! Dissera ao soprar a brasa do fogareiro e, antes que contasse o caso, ela pusera o pé na soleira da porta.
Moradora de vida toda num rancho beira-chão, bebeu e lavou-se da mesma água corrente que, por conta disso mesmo, renovava-se. Assoprando a garrafa de Tatuzinho que esvaziara no cio, paria e paria, como se o corpo lhe pregasse peças sem graça.
Com seus dentes fortes traçava a cana mal cascada e deixava o caldo escorrer pelos seios fortes até a vagina quente que o bebia sedenta. Dos muitos que conhecera, dois machos sabiam o doce desse doce. Línguas grandes e macias desciam lambendo a garapa até o ponto onde o sabor agridoce anunciava a mistura dos cios.
Dona de labuta, pegava terra para formar. Derrubava a mata no machado, limpava com fogo e sabia a hora de por a semente no chão. Jacás de milho no paiol, tuia derramando arroz e feijão e, muita fruta, tirava do muque forte. Dessa força tirava o poder da parição!
Cortava os resguardos pelo meio e cansava de inventar nomes. A terra arrepiava com os golpes de seu enxadão e ficava tesa de susto com cada barrigada que ela derramava na esteira. Tanta gente e tanta vontade de lavrar. Não tinha apelo, manchados, a esteira e o chão, já não se limpavam mais da nódoa de sangue e do líquido uterino.
Ela tinha a palavra! Famosa pela sua força, era temida pelos machos da redondeza, servidos que eram com facilidade, também, se não agradavam, podiam sair-se com as partes machucadas. Ela fazia o tempo e o ritmo, domava a fera que sobre ela arfava na viagem do tesão. Só não controlava ela, o resultado desses encontros e paria. Quantos filhos tivera, ninguém sabe, talvez nem ela.
Velha como aquele canto do mundo era conhecida como a Mãe da Terra, ou simplesmente a Mãe.
Chegada, tomara assento e fora logo pondo o verbo na roda, dizia o que lhe apetecia e repetia pior tudo o que ouvia.
Mentia com ar de superior conhecimento de causa e desafiava que lhe provassem o contrário.
Temida e rida, rompia os eitos como criava seu mundo, fatal maternidade e, frutificando do cio que recebia da terra, sua filha.
Chegara na pronúncia de seu nome e não dizia que haveria de partir. Assim é a Mãe!
Onaldo Alves Pereira

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Serena
Serena e acalma teu coração.
Deus ri de toda a insuficiência,
e das enrascadas da teologia
dos homens,
gargalha diante das formas,
dos ritos, das disputas,
e do calor dos debates
de nossa religião

Não te perturbes
Deus chora contigo
pela dor que permeia o mundo,
a criança sem lar
e a solidão do que erra,
pranteia as prisões
as favelas, o colesterol
de uns e a fome de outros

Seu riso alegra o Universo,
desperta o sol,
provoca o sorriso
do recém-nascido
e, coloca música no coração de todos

Suas lágrimas
dão Vida a nossa vida
apagam o fogo de nossos infernos
e prometem a vinda
de uma nova era

Deus dança ao compasso
dos corações que amam
pois, para Deus, essa é a sinfonia
mais sublime.
Deus é hipnotizado
pelo olhar dos amantes
e, ao luar de noites cálidas,
apaixona-se de novo
pelo mundo.
Onaldo Alves Pereira
Água boa
Pançudo, vinha cheio de si numa camiseta branca apertada. Era barriga para mais de um. Era avantajado o perfil e, descomposto o porte do moço. Tranqüilo, não dava parte de achar-se barrigudo. Comia como bem lhe apetecia, vestia o que os olhos lhe pediam e, dançarino manhoso, freqüentava a noite com sucesso. Namoradas não lhe faltavam e nem sofria falta de graça. Risonho, balançava a pança com gosto, num ritmo alegre, convencendo beleza nela.
Viera de longe. Buscava uma água boa. Sabia que matando a sede com água boa seria feliz redondo.
De ouvir dizer chegava, provava a água e partia. Nenhuma lhe apetecia. Salobras umas, ferrosas outras, sabendo a barro algumas, tinha aversão ao amarelo e não tolerava o sabor de cloro. Desesperava já de sua busca quando deu com uma currutela num pé de serra. Lá chegava depois a novidade, já velha a manchete, jornal de dois dias. Passava ao largo a modernidade e poucos moradores de lá haviam visto de perto um computador.
Ali havia uma fonte de água mineral, vinha aos gorfões duma reentrância da rocha do lado da serra que fazia sombra sobre a última rua da cidade. Não jorrava a fonte. Fazia uma pausa entre uma gorfada de água e outra, parecendo, às vezes, que desse intervalo não se recuperasse mais. Uma lagoazinha de água cristal escuro, funda como quê, recebia da rocha amuada o dom e respondia tanto quieta que assombrava as imaginações mais fracas.
Um gole só convencera o moço. Era boa redondo essa água. Tinha ela um fresco, sua textura era macia que sumia, seu sabor brincava na alma folguedos antigos e ele não duvidou. Arrumou o que fazer, conheceu gente, arredou da memória os rumos outros e deu a mala a um estudante que partia. Os caminhos da serra logo tinham ciência de seus pés. A noite. A lua abrindo o céu. Estrelas no chão e no cume das árvores. O cheiro de comida caseira dizendo as horas. A água, convencida, dissera ao rapaz que tudo aquilo era novo a cada momento por força dela, água. Que o sorriso da dona, que num pote carreava água antes que o sol amornasse o ar, alindava mais a fonte, ele não sabia sabendo.
Ela pousava o pote na pedra chata que a água lambia preguiçosa. Mãos espalmadas sentia o tecido da água. Sorria dum jeito meigo. Tomava o pote da água empanturrado e erguia nos ombros. A dona, então, se dignava olhar o moço e sorrindo ainda, era toda movimento, um pouco luz, um tanto líquida, cheirando a capim gordura, passos conhecidos do chão... e o moço ficava, que a água deveras era boa.

Onaldo Alves Pereira

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Alimento como troca vital
Quando nos aproximamos de alguma forma de vida para a recebermos como alimento desejamos fazê-lo com reverência, discrição e pudor.
Nada justifica que uma vida seja recebida com arrogância ou descompromisso. Quando assim fazemos, provocamos uma situação de dor desnecessária e somos contaminados por uma energia desequilibrada. Qualquer ser, planta ou animal, que é recebido como vida em nossa vida é dom divino que nos abençoa e fortalece, continuando a viver em nós.
Reconhecer isso potencializa ainda mais seu efeito positivo, alimenta o nosso corpalma, (não apenas o corpo), e, canaliza corretamente o fluxo das trocas vitais a favor da Vida!
Onaldo Alves Pereira
Sem bordas
Não propomos um sistema fechado nem único para todos. A beleza do que trazemos é que não tem bordas. Pode ser terreno de trânsito, de nomadismo, de busca ou de moradia.
Não tem bordas por estar inserido na colcha de retalhos da experiência humana e não pretender ser a colcha.
Essa proposta pode ser a resposta para alguns, angústia para outros, insignificante para esses, ameaçadora para aqueles...
Será, contudo, sempre apenas isso, pedaço do Caminho. Talvez um dos maiores benefícios que trazemos seja o desafio para que se aprenda essa abertura e, o exercício de serenidade decorrente de se conviver com isso.
Não estamos empurrando para o vazio, apenas dizendo que o contexto de nossa existência é muito mais belo e complexo de qualquer sistema filosófico ou religioso jamais conseguiria abarcar.
Tudo cabe, ainda, em sua totalidade, no sorriso que se abre ao fim de uma piada boa!
Onaldo Alves Pereira