terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Sentido

Ter que dar sentido à vida é lenha para a chama da angústia.
A vida não tem sentido. Sentido é qualidade de coisa fechada, acabada e, portanto, morta.
A vida nasce de si mesma a cada momento, espalha-se, devora horizontes, surpreende, ignora leis e continua fazendo-se vida.
Não cabe, portanto, indagar o sentido da vida. Antes, abraçá-la com paixão, sobretudo, entregar-se aos braços dela. Fazer o seu sentido!

Onaldo A Pereira

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Terremoto no Haiti: tragédia natural e não castigo divino

Tragédias, como a do terremoto no Haiti no começo deste ano de 2010, são inexplicáveis, mas ao mesmo tempo, mostram que existe no Universo um seguro que tudo cobre e compensa. Somente Deus, que tudo segura no colo, mesmo os cacos de sua criação, sem a possibilidade de perdas definitivas, pode conferir sentido à vida, diante desse caos momentâneo. O bom artista pode dar-se ao luxo de deixar uma obra sua ser borrada, pois é capaz não só de refazê-la, mas até de, continuamente, melhorá-la sem prejuízo para quem quer que seja. Nesse processo, o artista sabe o que não sabemos e age melhor do que possamos julgar. Quem diria que os golpes brutos numa peça de mármore, suavizados aos poucos, dariam origem a um Davi de Miguelangelo, não conhecesse o artista e a sua arte?
Assim, Deus no mundo!
Não, o terremoto não é sinal apocalíptico: “o bramido das ondas”, pois não é novidade e nem a pior das tragédias que já aconteceram no Planeta. Não deve, portanto, servir de vitamina para os fanatismos religiosos e nem instrumento de proselitismo, um bicho-papão moderno. Ouvi na televisão um pastor dizendo que o terremoto é uma punição pela prática generalizada do Vodu naquele país. Um absurdo idiota!
A dor e a perplexidade são respostas legítimas. A curiosidade científica também é uma reação interessante.
Ao contrário, pois, de dobrar os joelhos numa atitude primitiva de pasmo, que nos levantemos em ação solidária. Ação que não se resuma às respostas em momentos de desastre, mas que seja preventiva, consistente, organizativa e inclua o nosso estilo de vida, para ser menos consumista, mais respeitoso com as diferenças e, que leve em consideração o espaço dos outros seres, sem que nos vejamos como superiores.
Desastre maior que os terremotos naturais é uma atitude humana arrogante, especista, religiosamente exclusivista (como o uso da tragédia no Haiti como oportunidade missionária, como já planejam várias igrejas, conforme vi nos seus programas de tv), ecológica e politicamente predatória, e uma consciência não maior que o próprio umbigo. Essa atitude tem sido historicamente causadora de massacres perfeitamente evitáveis, pois causados pelas ideologias e religiões humanas: o genocídio dos povos indígenas, as cruzadas, as inquisições católicas e protestantes (que até certo ponto continuam contra os gays e lésbicas, as mulheres, os afro-descendentes e os que professam crenças diferentes das da maioria, entre outros), os sistemas ideológicos absolutistas etc.
Reflitamos sobre a bondade do/da Artista que tem em Sua mente perfeita a imagem do que irá fazer do Planeta, não obstante os aparentes atropelos. Façamos a nossa parte, acordando para a boa e transformadora consciência do que nos toca para o amor incondicional.
Nisso Deus sorri generosamente.
Onaldo Alves Pereira