segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Nem reencarnação nem inferno cabem no amor divino

Só podemos conceber, à luz da justiça e da compaixão de Deus, este único momento de desorganização e de sofrimento, nesta manifestação da vida. Imaginar outras voltas a este estado é dizer que Deus escorregou em sua perfeição e não conseguiu criar bem. Ou, que Deus não pode fazer melhor do que isto. Ainda, que esta é a vontade de Deus, que sejamos submetidos a uma infinidade de experiências sofridas para que se complete a nossa feitura. Que o aluno repita a mesma lição à náusea!
Neste caso, ou Deus é sádico e tem prazer em nossa dor, ou é um professor fraco, que não consegue ensinar a sua lição de uma vez só. Atribuir uma infinidade de reencarnações aos mistérios do desígnio de Deus para nos fazer evoluir é uma fuga, diante do horror desta possibilidade. De qualquer forma, este método, a reencarnação, seria pior que um inferno eterno, pois retarda de forma inexplicavelmente cruel, a aplicação de um ensino, de um progresso.
Deus é amor, se não o for não é Deus, mas um demiurgo infeliz. Se havemos de experimentar o sofrimento, de sermos limitados a uma hora de confusão e de dúvida para conhecê-lo, basta um momento, uma das manifestações da vida.
Pagar dívidas? Carma? Se Deus nos cria e permite ser quem somos, o faz com uma boa razão e a responsabilidade total é de Deus, não temos culpa alguma! Não temos que sofrer em reencarnações ou ir para um inferno eterno.
Compreendendo isto, como não responder com apreciação e amor ao Amor que nos cria para sermos amados?!
Onaldo Alves Pereira

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O único milagre que peço

Pudesse eu pedir um milagre,
Queria compaixão sobre compaixão,
Sobrando em cada alma.
Seria este milagre, a mãe dos milagres,
Pois, o que há que a compaixão não cure,
Não conserte, resolva e embeleze?
O mundo seria ainda mundo,
Mas o que agora, apenas faz sofrer,
Com compaixão, uniria e acudiria;
Em tão belos encontros,
Que aqui seria o céu,
Mesmo, ainda, com alguma dor.
Sem reparos, nem defeitos,
A compaixão geraria todos os bens
E, Deus sorriria generosamente
Em cada encontro
Dos seres que vivem
O milagre da compaixão.
Onaldo Alves Pereira

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ninguém crê no inferno

Uma das coisas mais assustadoras no ser humano é a sua capacidade de imaginar que possa salvar-se de uma danação eterna, na qual pereceria a maioria absoluta de seus semelhantes, familiares e amigos. Aterrorizante é que possa, ainda, alegrar-se nesta sua suposta salvação.
Para mim, essa imaginação é o único pecado humano, aliás, a sua doença mais avassaladora.
O normal seria que, ao imaginar tal descalabro, a pessoa optasse por estar onde a maioria estivesse. Fosse isto impossível, o único remédio seria enlouquecer.
O ser humano com um mínimo de sensibilidade não sobreviveria a uma possibilidade tão absurda, ilógica e odiosa!
Crer em um Deus capaz de permitir um inferno é inventar o diabo do diabo, o pior mal.
Só posso concluir que ninguém de fato crê nessa perdição; como não crê no lobo mau nem em vampiros etc. Apenas sofre uma alucinação desvairada, uma viagem egocêntrica do tipo: “eu vou para o céu, você não vai”; da qual há de acordar logo.
Onaldo Alves Pereira

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Puxar para baixo

O filho traz para o pai ver a sua primeira escrita. Anseia por aprovação. O pai pega a folha de papel e a encara com olhos vazios, embora ansiosos. Diz, então: Filho está mal a sua letra e cometeu vários erros. Tem que se esforçar mais, caprichar! O menino murcha interiormente e fica todo caído. Puxa as primeiras letras, escritas de modo especial para mostrar ao pai e agora, esse fracasso! Alguns anos depois, descobre que o pai é analfabeto! A segunda queda é pior que a primeira.
Confrontada, a mãe que sabia de tudo, argumentou que o pai precisava de afirmar-se como pai. Não podia revelar-se “menos” que o filho. Tinha que puxar para baixo para empurrar para frente! Nisso, tanto se afirmava como “estimulava” o filho!
Essa é a cara da religião patriarcal!
Onaldo Alves Pereira

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Deus é travesti

Deus é travesti
traz em si os contrários
veste o brilho da noite
esconde-se na luz do dia

Nos saltos altos
rebola gostoso
despeja purpurina
por onde passa

Não vês as estrelas?!

Muda de peruca
pra outro show
do verde das matas
retira as cores do outono
e, depois, de branco todo
descansa adormecido
embriagado
esperando
até que as esquinas
ganhem vida
e Deus traveca, feche e abale.


Onaldo A Pereira

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Sentido

Ter que dar sentido à vida é lenha para a chama da angústia.
A vida não tem sentido. Sentido é qualidade de coisa fechada, acabada e, portanto, morta.
A vida nasce de si mesma a cada momento, espalha-se, devora horizontes, surpreende, ignora leis e continua fazendo-se vida.
Não cabe, portanto, indagar o sentido da vida. Antes, abraçá-la com paixão, sobretudo, entregar-se aos braços dela. Fazer o seu sentido!

Onaldo A Pereira

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Terremoto no Haiti: tragédia natural e não castigo divino

Tragédias, como a do terremoto no Haiti no começo deste ano de 2010, são inexplicáveis, mas ao mesmo tempo, mostram que existe no Universo um seguro que tudo cobre e compensa. Somente Deus, que tudo segura no colo, mesmo os cacos de sua criação, sem a possibilidade de perdas definitivas, pode conferir sentido à vida, diante desse caos momentâneo. O bom artista pode dar-se ao luxo de deixar uma obra sua ser borrada, pois é capaz não só de refazê-la, mas até de, continuamente, melhorá-la sem prejuízo para quem quer que seja. Nesse processo, o artista sabe o que não sabemos e age melhor do que possamos julgar. Quem diria que os golpes brutos numa peça de mármore, suavizados aos poucos, dariam origem a um Davi de Miguelangelo, não conhecesse o artista e a sua arte?
Assim, Deus no mundo!
Não, o terremoto não é sinal apocalíptico: “o bramido das ondas”, pois não é novidade e nem a pior das tragédias que já aconteceram no Planeta. Não deve, portanto, servir de vitamina para os fanatismos religiosos e nem instrumento de proselitismo, um bicho-papão moderno. Ouvi na televisão um pastor dizendo que o terremoto é uma punição pela prática generalizada do Vodu naquele país. Um absurdo idiota!
A dor e a perplexidade são respostas legítimas. A curiosidade científica também é uma reação interessante.
Ao contrário, pois, de dobrar os joelhos numa atitude primitiva de pasmo, que nos levantemos em ação solidária. Ação que não se resuma às respostas em momentos de desastre, mas que seja preventiva, consistente, organizativa e inclua o nosso estilo de vida, para ser menos consumista, mais respeitoso com as diferenças e, que leve em consideração o espaço dos outros seres, sem que nos vejamos como superiores.
Desastre maior que os terremotos naturais é uma atitude humana arrogante, especista, religiosamente exclusivista (como o uso da tragédia no Haiti como oportunidade missionária, como já planejam várias igrejas, conforme vi nos seus programas de tv), ecológica e politicamente predatória, e uma consciência não maior que o próprio umbigo. Essa atitude tem sido historicamente causadora de massacres perfeitamente evitáveis, pois causados pelas ideologias e religiões humanas: o genocídio dos povos indígenas, as cruzadas, as inquisições católicas e protestantes (que até certo ponto continuam contra os gays e lésbicas, as mulheres, os afro-descendentes e os que professam crenças diferentes das da maioria, entre outros), os sistemas ideológicos absolutistas etc.
Reflitamos sobre a bondade do/da Artista que tem em Sua mente perfeita a imagem do que irá fazer do Planeta, não obstante os aparentes atropelos. Façamos a nossa parte, acordando para a boa e transformadora consciência do que nos toca para o amor incondicional.
Nisso Deus sorri generosamente.
Onaldo Alves Pereira