quinta-feira, 5 de março de 2009

Sobre a obrigação de gostar

Assisti a uma cena que me entristeceu. Numa festinha de crianças a
mãe de uma delas lutava com o seu filhinho, tentando convencê-lo a
ficar num determinado grupo de coleguinhas, ao que o garoto
insistia: Mas eu não gosto daquele menino, apontando para um deles.
A mãe, apavorada, argumentava: Não diz isso meu filho, Deus castiga,
temos que gostar, que amar, todo mundo! O menino respondia chorando:
Mas eu não gosto!! Não gosto!
Que tortura! Com certeza ali se formava um fingidor, um hipócrita
social, amando um amor castigo!
Somos o que somos, nas nossas medidas, que podem mudar, mas por
convicção própria, não por imposição. Nada pior fez a religião com a
humanidade do que impor esse amor por mandamento, esse gostar
obrigatório! "Amamos a todos", mas continuamos a deixar crianças
morando na rua, favelas como sombras de bairros ricos e pagamos
salário mínimo, enquanto nossas religiões gastam milhões construindo
templos, comprando canais de TV e montando missões mundo afora. Essa
é a cara desse amor obrigatório!
Amar ou gostar é algo íntimo, individual e não cabe a ninguém julgar
os seus limites ou preferências. Amamos a quem amamos e gostamos de
quem gostamos. Dentro desses limites seríamos mais sadios e
verdadeiros, sem a monstruosidade dessas hipocrisias que acenderam
fogueiras, cometeram genocídios e padecem de um crônico divisionismo
denominacional.
Respeitar sim. Respeitar a todos os seres, as suas diferenças,
gostares e desgostares. Respeitar mesmo a quem se quer longe.
Respeitar até quem não respeita e, lidar com o tal de acordo com
esse respeito.
O círculo do amor e das afeições é pequeno e especialíssimo! O
círculo do respeito é infinito, complexo e desafiante. Mesmo o
respeito não deve ser um mandamento, apenas uma regra impessoal de
convivência minimamente desenhada para incluir todos.
Amar é viver, respeitar é sobreviver.
Onaldo Alves Pereira

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