quinta-feira, 26 de março de 2009

Barra de chocolate

Toda vez que a menina levava a barra de chocolate à boca seus olhos esbarravam com a carranca da mulher sentada à sua frente e a sua mão não conseguia alcançar a boca. Sentia como se estivesse fazendo o mais obscuro dos atos, tão eloqüente era a reprimenda vinda daquela cara ensimesmada e adstringente. O sabor do chocolate era a transgressão. Nada mais impuro diziam-lhe aqueles olhos semicerrados, puxando que vinham, de longínquas ancestralidades, a avaliação final e definitiva do ato da menina. “Do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás”, nesse retumbante mandamento os seus olhos ancoravam a longa linha de nãos, nãos e nãos que coibiam a volúpia degradante dos sentidos. E a menina sentia derreter-lhe entre os dedos a barra de chocolate...
Onaldo Alves Pereira

2 comentários:

  1. Oi Onaldo, sabe esse seu texto me lembrou a mim mesma...a menina que adora um doce...e a mulher que censura por vários motivos, açucar muito açucar faz mal engorda etc.
    as duas (menina/mulher) numa única pessoa...

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  2. chocolate.. uma das melhores coisas ja criadas

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