sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Repressão

Ao contrário do que acontece, o serviço de repressão aos desatinos de alguns deveria ser objeto de vergonha e dor. Algo semelhante ao pudor e recato usual a quando vamos ao banheiro defecar seria natural também nesse caso. Enquanto defecar é comum e bom sinal do funcionamento do organismo, a repressão policial, por exemplo, denuncia o fracasso de nossas instituições na formação e proteção da pessoa.
Qualquer ato repressivo é o último e desesperado recurso de uma sociedade que não deu conta de si mesma, de doutrinas que fracassaram e de uma humanidade que não evoluiu ainda o suficiente. O policial, ao prender alguém, deveria pedir a essa pessoa perdão pelo que faz. O juiz que condena, deveria também punir a sua própria instituição. Esse serviço, pelo bem do mundo, deve ter como objetivo maior o seu próprio fim. Ele deveria ser, talvez, a única coisa considerada “pornográfica” na sociedade.
Por isso mesmo, por ser tão desnatural e vergonhoso, esse serviço só deveria ser prestado por profissionais altamente qualificados e com equilíbrio emocional e muita paixão pelo mundo.
Onaldo Alves Pereira

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Deus e o deus da teologia

Para a teologia predominante, Deus é mais uma ameaça que uma segurança.
Esse “Deus” nos segura com mãos ensaboadas, delas escorregamos, se nos mexemos.
Deus “ama” odiando; ama o pecador, mas odeia o pecado, por isso, nunca está totalmente unido à sua criação.
Deus cria para perder, pois, sabendo da suposta “queda” de sua criação (no caso, o ser humano – (antropocentrismo) ainda assim, prossegue como se tomado por uma obsessão sadomasoquista.
Esse Deus é o fracasso embutido em tudo o que toca, é o destino fatídico de sua criação, é, conseqüentemente, o próprio mal.
O Deus verdadeiro é absoluto em sua bondade.
Deus segura tudo o que cria como a si mesmo, em si mesmo. Perder algo equivaleria a perder-se o que é, de fato, uma impossibilidade.
Deus permite contradições e paradoxos em sua ação cósmica, ao conceder espaço para a liberdade dos seres, um exercício de estabelecimento de relação com o que cria.
Isso pode até, num determinado momento, dar uma aparência de afastamento e, mesmo, de abandono por parte de Deus, o que, de fato, é apenas uma ilusão, pois, se a corrente cai numa cascata Deus vai junto; se a poeira se eleva e se dispersa no ar, nela, no ar e no chão Deus está; se a consciência se perde num emaranhado de dúvidas, na dúvida e na consciência está Deus. Deus no gozo, na dor, na causa e na conseqüência, na inconseqüência também. Deus no perpetrador e na vítima, na fome e na saciedade e, ainda, na indiferença. Deus na sociedade que brota e na que apodrece, no pensamento que prepara como no que aborta. Deus sempre indefinível, por ser interior. Como é difícil ver-se a si mesmo assim também o é ver a Deus. Aquilo que está dentro do olho, que é o pensamento e não apenas o seu conteúdo, que também se desdobra na visão e no pensamento, Deus. Deus é Deus por isso mesmo é Deus e é...
Absoluto em sua bondade, senão não seria! Isso sabemos com certeza.
Deus é o mapa que, interior às águas, guia-as rumo ao Oceano não obstante os caminhos que toma.
Deus é o tesão que leva ao encontro, que fertiliza a vida, que diz a ela para individualizar-se.
Deus é o absurdo da completa segurança e o sentido de tudo.
Onaldo Alves Pereira

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

“Pare de sofrer”

Vê-se por aí anúncios do tipo: “Quer libertar-se das drogas, e das doenças etc procure-nos!” “Está desempregado, com problemas familiares, deprimido? Nós temos a solução!” Aí oferecem o telefone, o endereço, programas de rádio e TV etc.
Mas não se vê:
“Você está desempregado, com fome, desabrigado?! Nós temos a solução, oferecemos emprego, casa e comida. Procure-nos.”
As igrejas oferecem o abstrato o que, ao contrário de lhes custar algo, rende-lhes fortunas. É mais fácil e cômodo. Se Deus proverá, seus seguidores estão eximidos de fazê-lo!
Essa é uma anti-religião, a que oferece um produto no qual não vai junto, inteira, uma propaganda enganosa, negação da vida.
Onaldo Alves Pereira

A minha fonte

Sou da fonte o motivo, ela jorra para mim
Sabe, a fonte, minhas entradas
E, delas, o mapa traz em si

Da vida, caudal imenso
Solta de si a fonte
Em sabores, cores, odores
Na visão interior ao ser
Profusão de muito mais
Que tem para dar de si, a fonte

Ela só é fonte por mim
Seca se não sou dela todo
Finda vazia, embora cheia
Se não quero dela sempre mais.
Onaldo Alves Pereira